O segundo motivo que deveria nos predispor a uma evangelização assídua é o amor ao nosso próximo e o desejo de ver os outros seres humanos salvos. O desejo de ganhar os perdidos para Cristo deveria ser, e de fato é, a natural e espontânea decorrência do amor que está no coração de todos aqueles que já nasceram de novo. Nosso Senhor confirma a exigência, presente no Antigo Testamento, de amarmos ao nosso próximo, como a nós mesmos. “Por isso, enquanto tivermos a oportunidade,” escreve Paulo, “façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé”. Que maior necessidade pode ter o ser humano do que a necessidade de conhecer a Cristo? Que bem maior podemos fazer a qualquer ser humano do que lhe expor o conhecimento de Cristo? À medida em que realmente amamos ao nosso próximo como a nós mesmos, necessariamente desejaremos que ele desfrute da salvação que é tão preciosa para nós. Na verdade, isso não deveria ser algo em que deveríamos pensar, quanto mais discutir. O impulso para evangelizar deveria brotar espontaneamente em nós na medida em que reconhecemos a necessidade que o nosso próximo tem de Cristo.
Quem é o meu próximo? Quando o intérprete da lei, que se viu confrontado com a exigência do amor ao seu próximo, fez esta mesma indagação ao nosso Senhor, Jesus respondeu narrando a história do Bom Samaritano. O que esta história ensina é simplesmente isto: todo ser humano que você encontrar e que esteja necessitado, é o seu próximo; Deus o colocou no seu caminho para que você possa ajudá-lo e o seu negócio é revelar-se como sendo o próximo dele, fazendo tudo o que estiver ao seu alcance para suprir a necessidade dele, não importa qual seja. “Vai e procede tu de igual modo”, disse o nosso Senhor ao intérprete da lei. E ele nos diz o mesmo. E o princípio se aplica a todas as formas de necessidade, tanto espirituais quanto materiais. De modo que, quando nos achamos em contato com homens e mulheres que estão sem Cristo e, assim encaram a morte espiritual, devemos considerá-los como nossos próximos, e perguntar-nos o que podemos fazer para tornar Cristo conhecido deles.
Devo enfatizar mais uma vez: se nós mesmos conhecemos algo do amor de Cristo por nós, e se sentimos um pouquinho de gratidão nos nossos corações pela graça que nos salvou da morte e do inferno, então esta atitude de compaixão e cuidado por nossos semelhantes espiritualmente necessitados deveria fluir de modo natural e espontâneo de dentro de nós. Foi em relação a uma evangelização agressiva que Paulo declarou que “o amor de Cristo nos constrange” . É uma coisa trágica e repulsiva quando os cristãos perdem o desejo, e tornam-se verdadeiramente relutantes, de compartilhar o conhecimento precioso que têm com os outros cuja necessidade é tão grande quanto a sua própria. Foi natural para André, depois de ter-se encontrado com o Messias, partir e falar ao seu irmão Simão, e a Filipe que correu levar as boas novas ao seu amigo Natanael. Ninguém precisou dizer-lhes para fazer isso; eles o fizeram de forma natural e espontânea, da mesma forma como natural e espontânea uma pessoa compartilharia com a sua família e amigos qualquer outra novidade que a tivesse afetado fortemente. Existe algo de muito errado conosco se não consideramos natural nós mesmos agirmos desta maneira. É bom que tenhamos clareza sobre isso. Evangelizar é um grande privilégio; é uma coisa maravilhosa estar em condições de falar aos outros sobre o amor de Cristo, estando cientes de que não há nada de que eles necessitam saber mais urgentemente, e não há nenhum conhecimento no mundo que possa lhes fazer um bem tão grande. Não temos, portanto, porque ser relutantes e tímidos na evangelização pessoal e individual. Pois deveríamos ficar felizes e contentes em fazê-lo. Não deveríamos buscar desculpas para fugir da nossa obrigação, quando se nos oferece uma oportunidade de conversar com os outros sobre o Senhor Jesus Cristo. Se nós nos pegamos fugindo desta responsabilidade e tentando evitá-la, temos que nos deparar com o fato de que, com isso, estamos cedendo ao pecado e a Satanás. Se (como acontece usualmente) é o medo de ser considerado anormal e ridículo, ou de perder a popularidade em certas rodas de amigos, que nos impede, é preciso que nos perguntemos, diante de Deus: Estas coisas devem nos impedir de amar ao nosso próximo? Se for uma falsa vergonha, que na verdade não é vergonha nenhuma, e sim orgulho mascarado, que impede a nossa língua de dar o testemunho cristão quando estamos com outras pessoas, precisamos fazer esta pergunta à nossa própria consciência: O que nos importa mais, afinal – a nossa reputação ou a salvação deles? Não podemos ser complacentes com essa gangrena de vaidade e covardia quando sondamos assim as nossas vidas na presença de Deus. O que precisamos fazer é solicitar a graça para que possamos transbordar de tal forma do amor de Deus, que transbordemos de amor pelo nosso próximo e, dessa forma, achemos fácil, natural e prazeroso compartilhar com ele as boas novas de Cristo.
Espero, a esta altura, que esteja ficando claro para nós, como deveríamos considerar nossa responsabilidade evangelística. A evangelização não é a única tarefa que o Senhor nos deu, nem tão pouco é uma tarefa que todos são chamados a cumprir do mesmo modo. Não somos todos chamados para ser pregadores; não são dadas a todos as mesmas oportunidades ou habilidades comparáveis para lidar pessoalmente com homens e mulheres que necessitam de Cristo. Mas todos nós temos o mesmo dever de evangelizar, do qual não temos como fugir sem ao mesmo tempo com isso deixar de amar a Deus e a nosso próximo. Para começar, todos nós podemos e devemos estar orando pela salvação de pessoas não convertidas, particularmente da nossa família, e entre os nossos amigos e colegas do dia a dia. Além do mais, precisamos aprender a reconhecer as oportunidades de evangelização que as nossas condições cotidianas oferecem, e sermos ousados no aproveitamento delas. O ser ousado faz parte da natureza do amor. Se você ama alguém, fica constantemente pensando na melhor coisa que pode fazer pela pessoa e como pode melhor agradá-la com tudo o que você planeja para ela. Se, no caso, amamos a Deus – Pai, Filho e Espírito – por tudo o que eles fizeram por nós, devemos reunir toda a nossa capacidade de iniciativa e empreendimento para extrair o máximo de proveito que pudermos de cada situação para a sua glória – e a principal maneira de fazer isso é de descobrir formas e meios de disseminar o evangelho, obedecendo ao mandamento divino de fazer discípulos por todos os lugares. Similarmente, se amamos nosso próximo, reuniremos toda a nossa capacidade de iniciativa em empreendimento para encontrar formas e meio de lhe fazer bem. E a principal maneira de lhe fazer algo de bom é compartilhar com ele o nosso conhecimento de Cristo. Assim, se amamos a Deus e ao nosso próximo, evangelizaremos e seremos ousados em nossa evangelização. Não nos perguntaremos com relutância quanto devemos fazer neste campo, como se evangelizar fosse uma tarefa desagradável e pesada. Não perguntaremos ansiosamente qual o mínimo de esforço que devemos fazer, em termos de evangelização, que agradará a Deus. Mas perguntaremos avidamente e com toda sinceridade pediremos para que ele nos mostre quanto podemos fazer para disseminar o conhecimento de Cristo entre os homens, nos entregaremos de todo o coração a esta tarefa.