Nos dias que se seguiram à revolução da Rússia, grande parte da população do país teve de suportar muita miséria. Milhares de pessoas pereceram de fome. E milhares de outras que haviam tido de tudo se converteram em mendigos. Era difícil às crianças compreenderem essa situação, pois a mudança sobreviera demasiado rápida.
Certa família passava por uma crise dificílima. O pai fora assassinado, a mãe morrera, e só restava a vó e três crianças. Tinham morado num belo palácio, e sua mesa estava sempre repleta de coisas gostosas. Agora, porém, viam-se obrigadas a morar numa choça. A vó tinha de tecer todo o dia para ganhar o sustento para ela e seus netos. Mas terminado o trabalho, era-lhe custoso convertê-lo em alimento.
Pouco havia nessa região. Aconteceu certo dia que já haviam consumido o último bocado. Depois de cada um comer uma fatia de pão, ao meio dia, nem uma migalha ficara em casa. A vó estava desesperada, mas não queria que os pequenos percebessem sua ansiedade. Reuniu-os ao redor de si, disse-lhes o que se passava, e logo todos se ajoelharam para pedir o auxílio do Céu. Sabiam que suas provisões haviam terminado, e que se Deus não acudisse morreriam de fome, como havia sucedido com muita gente pobre da aldeia em que viviam.
E assim oraram, como só podem fazer pessoas prestes a morrer de fome. Não sei o que cada um dos meninos teria dito, mas as palavras da pequenita foram mais ou menos estas: "Querido Senhor Jesus, manda-nos algo para a janta: não uma fatia de pão, mas um pão inteiro." Fazia muito tempo que não viam um pão inteiro, e ansiavam tanto possuir um, como nós desejamos um pudim para o nosso aniversário.
Chegou a hora da janta, mas nada havia para comer. Pobres crianças! Quanto devem ter ansiado por algum alimento!
– A senhora ainda não afiou a faca, vovó, disse a pequena, crendo plenamente que sua oração seria atendida.
Assim a vó afiou a faca, segundo o costume russo. Momentos depois, os pequenos, famintos e com frio, estavam para ir deitar-se, quando bateram à porta. Lá fora estava um homem todo coberto de neve. Havia corrido 32 Kms nesse dia. A vó reconheceu nele um antigo amigo da família, e recebeu-o com alegria.
– Que é isso? Que veio fazer por aqui? – perguntou ela ao velho amigo.
– Por volta de meio-dia tive a impressão de que vocês estavam necessitados, e que deveria vê-los.
E voltando para as crianças, disse:
– Não sabem o que lhes trouxe aqui?
– Eu sei – disse a menina.
– Que é? – perguntou o homem.
– É um pão inteiro.
– Isso mesmo, você adivinhou – disse ele, abrindo o sobretudo e tirando um belo pão grande, inteiro. – Como sabia você que era um pão?
Então ela contou que havia orado a Jesus pedindo que Ele mandasse um pão inteiro. E agora todos se ajoelharam e agradeceram a Jesus por lhes haver atendido o pedido.
E ainda que o pão era sem manteiga, todos o saborearam com grande prazer, e a janta aquela noite foi uma grande alegria para a vó e os netos. E também foi para o amigo que se alegrou bastante, vendo a fé da menina, e de todos que haviam orado.